quinta-feira, junho 23, 2022

Canção Doce, Leila Slimani

 


Uma história que já vimos e lemos em outros tempos e lugares – uma ama “doce” que acaba por matar as crianças que lhe foram confiadas.

A leitura vale a pena pelo ritmo narrativo que a autora impõe, e pelo domínio da escrita.

As personagens são bem desenhadas e nelas vivem muitos problemas do nosso tempo. Porém, Leila Slimani nunca cede à emoção fácil, à análise psicológica de pacotilha, à vitimização de uma ou à culpabilização de outros.

É a vida, simplesmente, mesmo nos seus episódios mais dolorosos ou assustadores.


quarta-feira, junho 15, 2022

Até ao Fim da Terra

 


Não me lembro de a leitura de qualquer livro me ter cansado tanto. E, apesar de me parecer que algumas vezes o autor se aventura excessivamente na descrição dos sentimentos e emoções femininos, sendo homem, é impossível não  reconhecer no livro uma obra de grande fôlego sobre o amor nas suas diversas formas, a importância de “fazer o caminho”, as contradições humanas, a humanidade e o que lhe é comum, e o seu país - Israel, cheio de contradições e, também ele, uma ferida aberta.


David Grossman nasceu em Jerusalém e é um dos maiores escritores do nosso tempo. É autor de uma extensa obra que está publicada em mais de trinta línguas em todo o mundo. Recebeu numerosos prémios, incluindo o francês Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, o Buxtehuder Bulle na Alemanha, o Prémio de Roma pela Paz e pela Ação Humanitária, o Prémio Ischia Internacional de Jornalismo, o Prémio Emet de Israel, o Prémio da Paz dos Editores e Livreiros Alemães e o Prémio Albatross da Fundação Günter Grass. Em 2018, foi-lhe atribuído o prestigiado Prémio Israel de Literatura. O seu romance Até ao Fim da Terra foi distinguido com o Prémio Médicis Estrangeiro, o National Jewish Book Award, o Prémio JQ Wingate e, tendo sido destacado em inúmeras listas de favoritos, foi ainda considerado o melhor livro de 2011 pela revista Lire. Em 2017, Um Cavalo Entra num Bar recebeu o Prémio Man Booker Internacional.

sexta-feira, maio 20, 2022

De Noite Todo o Sangue é Negro

 



Duro, duro, tão duro como um corno, mas tão bom!

..."É cruel, mas nunca sádico, o modo de escrita de Diop. É visceral. É a marca de um grande escritor que sabe o poder da linguagem para deixar na sombra o que é preciso que fique na sombra. “A história escondida tem de estar lá sem lá estar, tem de deixar-se adivinhar como um vestido cingido amarelo cor de açafrão deixa adivinhar as belas formas de uma rapariga. Tem de transparecer”, lê-se nesta história que sai da cabeça de um soldado que, depois de ser considerado um herói, é enviado para a retaguarda porque os colegas, brancos e negros, só conseguem ver nele a morte. Toda a beleza aqui é a da literatura.”

Isabel Lucas 

Nov. 2021, Público


domingo, maio 15, 2022

Leitura


 

É diário, é memória, é ficção, é procura, introspecção?

Tudo isso feito numa escrita cativante, moderna e feminista.

O caminho das mulheres, cheio de dores e perdas, nunca é fácil, mas nele pode haver felicidade e, sobretudo, liberdade.

quinta-feira, maio 05, 2022

Modos de ver

 É um país cheio de sol e cor, o nosso, mas os portugueses parecem ver, cada vez mais, a preto e branco.

quarta-feira, maio 04, 2022

Como?


Como é que  podemos ficar indiferentes diante de tais alarvidades?

Como é que ninguém explica à criatura que Portugal é uma democracia e que nas democracias não se ilegalizam partidos, como na Ucrânia?

Como ensinar ao rapaz o que ele já devia saber: que o PCP tem lá as suas parvoíces ( agora até se excedeu nelas) mas teve também um papel fundamental na luta contra a ditadura e na construção da democracia?

Como explicar àquele humano que, por cá, estender a mão e sentir que nos querem levar o braço não é coisa do nosso agrado?

Como ensinar a um "burro velho" as regras de boa educação e convivialidade na casa dos outros quando, estando em fuga, se aceita um convite para partilhar o tecto, e às vezes os parcos haveres?

Como?
 

terça-feira, maio 03, 2022

Interrupção voluntária do progresso

 




Público, 3 Maio 2022

Supremo Tribunal dos EUA pronto para anular direito ao aborto


Leio:
"Um documento a circular no Supremo Tribunal dos Estados Unidos prevê a anulação da decisão histórica de 1973 que estabeleceu o direito ao aborto, noticia o jornal Politico com base em documentos internos do tribunal, em que se mostra uma maioria de votos a favor da decisão..."
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Constato:
Depois de ter assistido, e ajudado, a tantas conquistas para a humanidade, raro é o dia em que, ao abrir o jornal, não tenho o calafrio de ver o mundo a andar para trás.
Chiça!, é tão triste.

quarta-feira, abril 27, 2022

A senhora Inna Ohnivets

O 25 de Abril não é de ninguém. É de todos os que se queiram encontrar na rua, celebrando a liberdade e uma data que lhes é querida.

É dia de risos e abraços, encontros, cravos na mão, corres garridas no vestuário, ténis nos pés, conversas, recordações e esperança no futuro.

Quem quiser, aparece. Vai alinhado ou desalinhado. Pertence a um grupo ou a si mesmo. E tudo isso está bem.

Tem sido sempre assim, até que apareceu um novo partido, a Iniciativa Liberal, que está sempre de olho na “facturação” e no lucro. Foi isso que bispou ao convidar a senhora Inna Ohnivets , embaixadora da Ucrânia em Lisboa, para desfilar com eles numa festa à parte, só deles.

E não é que a senhora Inna aceitou? Embrulhou-se na bandeira do seu país e lá foi. Tenho para mim que a senhora Inna sabe tanto do que é a IL como de Bacalhau à Zé do Pipo, e isso nem seria grave se não mostrasse que ela também não sabe qual deve ser o papel de um embaixador, e isso, sim, já é grave.

A ajuda de Portugal à Ucrânia, tem sido feita por todos nós, individual e colectivamente, mas por TODOS. Em nenhuma circunstância um embaixador pode aliar-se a uma parte do país que o acolhe em detrimento de outra mas, neste caso em particular, é de uma injustiça tremenda.

Acredito que não fez por mal, não creio que seja liberal nem qualquer outra coisa.

Como não tenho más intenções, quer-me parecer que a senhora Inna será apenas burra.


terça-feira, abril 26, 2022

A coisa que nos une

 Centenas de milhar de pessoas enchendo durante horas a Avenida da Liberdade em Lisboa, do Marquês ao Rossio. Esmagador. Continua a surpreender-me. 47 anos depois (e apesar de dois anos de interrupção pela pandemia), o 25 de Abril continua a ser O Dia. Surpreende pela adesão, e surpreende porque não é uma manifestação com uma reivindicação, não é uma festa, não é um evento desportivo ou religioso. É simplesmente um estar na rua, um passear, um estar junto, marcar presença no sentido bom da expressão. E o que se celebra não é uma data nacionalista, não é uma independência, não é uma vitória bélica, é o fim duma ditadura e o estabelecimento duma democracia. Que seja este o motivo e que seja aquela a forma de celebrar, é uma preciosidade e uma raridade. Que seja isto que nos une às centenas de milhar ano após ano é extraordinário e um bem valiosíssimo a preservar na nossa comunidade e que já foi passado às gerações seguintes.”


Miguel Vale de Almeida, numa rede social

(são 48 anos e não 47 como ele escreve)

25 Abril 2022


domingo, abril 24, 2022

Ainda a França - Jacques Rancière

 ...

Onde Le Pen e Macron lideram as intenções de voto.

Em França, governa um partido de direita e a oposição é da extrema-direita. Isto significa que a oposição não está a ser liderada pela esperança, mas pelo ressentimento. É um fenómeno significativo, o ressentimento, e tudo aquilo que ele gera.

Quer explicar?

Em tempos, houve um conjunto de ideais que tentaram opor-se à ordem capitalista. Hoje, essa oposição surge não no sentido de mudar a situação ou de incomodar a ordem dominante, mas como uma espécie de desespero que se traduz em ressentimento, que por sua vez se traduz em xenofobia, racismo, segregação. Em última instância, procura-se encontrar um ‘responsável’. Não havendo mudança possível, é preciso alguém em quem depositar a culpa.

Excerto da entrevista publicada no Expresso de 23 Abril 2022

sábado, abril 23, 2022

Erros meus


Houve um tempo em que acreditei que Trump não seria eleito.

Houve um tempo em que acreditei na derrota do Brexit.

Hoje acredito que a Le Pen pode ganhar em França amanhã.

Desejo muito estar de novo enganada.

sexta-feira, abril 22, 2022

Diferenças

 Nestes tempos conturbados, o que me incomoda, e me pode levar a cortar relações com alguém, não é a diferença de opinião, é a diferença de valores.

Nunca esta tinha sido tão exposta como neste ano da (des)graça de 2022.

quarta-feira, abril 20, 2022

O meu bairro é assim

No meu bairro esgotaram-se as cabeças para dar trabalho a tantas cabeleireiras, esteticistas e dentistas.

Passámos, então, ao corpo, e agora nascem diariamente ginásios normais e especiais, e clínicas de reabilitação normais e especiais, não sendo raro que cresçam paredes-meias.

Difícil, mesmo, é encontrar um simples marco do correio.

sábado, abril 16, 2022

Páscoa


 "A vida é um pequeno espaço de luz entre duas nostalgias. A nostalgia do que ainda não vivemos e a do que já não poderemos viver."

Rosa Montero

"A Carne"

quarta-feira, abril 13, 2022

Encruzilhadas


 No princípio dos anos 2000 li Correcções de Jonathan Franzen e gostei muitíssimo.

Depois li Freedom e só gostei assim-assim, deixei passar Purity e agora decidi-me por ler Encruzilhadas.

Desta vez não entramos num bocado da América contemporânea, como é costume do autor, mas regredimos aos anos 1970 num qualquer subúrbio próspero de Chicago.

Mais uma vez a família, os seus momentos de rotura pessoais e colectivos, tudo contado com uma estrutura que considero preguiçosa, isto é, uma pessoa de cada vez, uma história de cada vez, um drama de cada vez, uma rotura de cada vez.

É certo que ele sabe contar histórias que nos entretêm mas no fim, também com alguma preguiça, ouso canibalizar Rogério Casanova na sua apreciação do livro quando ele escreve:

 A sensação que fica muitas vezes dos seus livros é a de um aluno muito esperto que decidiu dedicar toda a sua energia a fazer o melhor trabalho de casa de todos os tempos.”

Não é muito, convenhamos.


sábado, abril 09, 2022

Pergunta

 Se o governo disse que Portugal tem cereais até ao final do ano, por que é que o preço do pão sobe todas as semanas?


sexta-feira, abril 08, 2022

Quem perceber isto, levante o dedo

 


Esta é a notícia do "dinheiro vivo". Por outros meios ficámos a saber que a empresa que lhe paga este ordenado, e de que é dona, recebe 448.000€ de apoios do estado (nossos, portanto, via Orçamento G do Estado) para a ajudar a suportar o aumento do salário mínimo dos trabalhadores. aqui


quarta-feira, abril 06, 2022

Multitasking

 A trela do cão vai atada ao carrinho do bebé que o jovem pai empurra com a mão direita enquanto, com a esquerda, manobra o telemóvel.

Passear o filho, passear o cão e actualizar o seu mundo.

Quem disse que só as mulheres são multitasking?