Sócrates
escreve cartas.
Sócrates não
quer ser esquecido numa cela da prisão de Évora e está zangado, muito zangado.
Sócrates
sente-se encurralado, começa a estar confuso, a disparar em todas as direcções,
e começa a mostrar falta daquela frieza tão necessária quando se enfrenta um
adversário poderoso mas difuso.
Esta sua última carta, enviada ao Diário de Notícias, mais parece um lamento/acusação. E é
incoerente.
É que, ao perguntar
“quem nos guarda dos guardas?”, por exemplo, está implicitamente, e talvez sem
que o perceba, a assumir o falhanço da sua acção governativa.
Sócrates não
é um preso comum; ele foi primeiro-ministro durante seis anos, e só deixou de o
ser há três. Tudo aquilo de que acusa a justiça, sendo ou não verdadeiro, é também
culpa sua e das políticas que desenvolveu para o sector.
Há pessoas
que, mesmo quando tudo o aconselha, não conseguem fechar a boca.
Isto pode
correr mal.