Para desespero das massas apreciadoras do futebol, dos que
acham que ele é o melhor jogador do mundo para além de qualquer dúvida
razoável, e também dos simples portugueses que se sentam a ver um jogo da selecção
do seu país, o Ronaldo parecia estar em divórcio litigioso com a baliza.
Não faltaram explicações de alto gabarito psicológico para
tanto falhanço, se calhar todas boas, mas o facto é que o homem não marcava
golos.
Na noite do jogo com a República Checa vi, num canal de
notícias e já um pouco para o fim da noite, imagens em câmara lentíssima de todas
as expressões faciais do jogador nos segundos após o golo que marcou.
O grito libertador, a comoção, quase as lágrimas, a alegria
pura de menino, o orgulho, o expurgar dum feitiço mau, o alívio do fim da dor,
sofrimento e frustração de muitos dias, a realização pessoal do homem, o
esforço, o gosto por satisfazer também os outros, tudo passou, em breves
instantes, na cara daquele rapaz.
Por breves instantes também, senti empatia, e lamentei que
por perto nunca tenha tido ninguém que soubesse puxar pelo que terá de melhor,
excluindo os pés, claro.