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domingo, abril 24, 2022

Ainda a França - Jacques Rancière

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Onde Le Pen e Macron lideram as intenções de voto.

Em França, governa um partido de direita e a oposição é da extrema-direita. Isto significa que a oposição não está a ser liderada pela esperança, mas pelo ressentimento. É um fenómeno significativo, o ressentimento, e tudo aquilo que ele gera.

Quer explicar?

Em tempos, houve um conjunto de ideais que tentaram opor-se à ordem capitalista. Hoje, essa oposição surge não no sentido de mudar a situação ou de incomodar a ordem dominante, mas como uma espécie de desespero que se traduz em ressentimento, que por sua vez se traduz em xenofobia, racismo, segregação. Em última instância, procura-se encontrar um ‘responsável’. Não havendo mudança possível, é preciso alguém em quem depositar a culpa.

Excerto da entrevista publicada no Expresso de 23 Abril 2022

terça-feira, julho 29, 2014

Clara e João, combate de galácticos










 
 
 
 
 
 
 
A entrevista de Clara Ferreira Alves a João Magueijo, na Revista do Expresso de sábado passado, não é bem uma entrevista.

Quando se chega ao fim, percebe-se que aquilo não passa duma batalha verbal entre dois cabotinos.

Ela exibe-se formulando perguntas, que mais parecem orações de sapiência, em que consegue introduzir termos e nomes que todos os leitores do Expresso usam quando vão ao mercado comprar sardinhas. Por exemplo, Margate, englishness, understatement, Hawking (é uma obsessão), D. Afonso da Maia, stasis. E ainda encontra espaço para dizer que tem um aluno de doutoramento que é muçulmano.

Ele vai respondendo com merda, caralho, foda-se ou cu, q.b.

A dado passo, abandonando fugazmente a ciência e o vernáculo, Clara pergunta − “o que lê quando está triste?”. Logo ali me pareceu  que a pergunta estava quase, quase, ao nível da mais famosa pergunta da televisão portuguesa – “o que dizem os seus olhos?”, mas para melhor, claro.

Abreviando, e para quem não teve oportunidade de ler a entrevista, transcrevo uma pergunta/afirmação, e respectiva resposta, que resumem magistralmente o tom e conteúdo deste trabalho jornalístico:

 - Vamos falar de Hadron Collider. (diz ela)
 - Foda-se! (responde ele)

Um pouco de understatement até nem calhava aqui mal, pois não?!

Melhor calharia ainda sermos poupados a seis páginas de pornográfico exibicionismo de dois egos que se julgam a encarnação única da própria partícula de Deus.

segunda-feira, abril 28, 2014

Olhe, Miguel, peço desculpa.



Pode a escrita de um homem envelhecer (não amadurecer) com ele?
Pode.

Nas semanas em que leio-não lei, leio-não leio, leio! o Miguel Sousa Tavares, quando acabo a leitura parece que terminei a visita a um lar de idosos.

Em compensação, quando acabo de ler o Pedro Santos Guerreiro, mesmo que não goste da conversa, gostei da esplanada e da revigorando bebida fresca com muito gelo, picos no nariz, palhinha e tudo.

Plagiando-o, Miguel, − “Peço desculpa”.

sábado, março 15, 2014

Afinal, a vida é bela


















 
 
 
 
Durante a semana passada muito se falou no “Manifesto dos 70”, o tal que assume que a dívida portuguesa, assim, não é pagável.
Acontece que aqueles 70 portugueses querem pagar a dívida, e por isso defendem que ela tem de ser reestruturada.

Isto parece-me elementar, e tem sido prática corrente entre os homens ao longo de séculos, mas por cá gerou grande reboliço.
Não que houvesse discussão séria, isso não, que não vale a pena, mas no que toca ao insulto foi do bom e do melhor.

Partindo do princípio de que nada de novo será feito, Cavaco Silva já tinha vindo dizer que a austeridade vai manter-se até 2035, porque só então a dívida pública estará nos 60% do PIB.

Eu não me assustei nada com isso.

Hoje, o Expresso escreve que Passos faz contas diferentes e que, com números de crescimento mais modestos, conclui que a dívida é sustentável, mas que só ficará nos tais 60% do PIB em 2159, isto é, daqui a 145 anos.

Se não me tinha assustado com a conversa do Cavaco, agora então, confesso que até me apeteceu dançar.

É que, sendo assim, há esperança de que o Manoel de Oliveira ainda possa ter o subsídio por que espera para fazer o seu novo filme e eu, nessa altura, em 2159, acho que também ainda me abalanço a fazer a tal licenciatura em ciência política, mesmo que já venha a precisar de mais uns anitos para a terminar.
Afinal, a vida é bela.

quarta-feira, janeiro 22, 2014

Sobre a praxe, curto e grosso


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Para um pacifista, o pior mal é a guerra. Para mim, é a agressão. E a agressão, por vezes, tem de ser travada pela força.”

Amos Oz
Entrevista ao Expresso, 23 Novembro 2013

A praxe é uma agressão. Só a força da lei a pode travar.
Proibir, sim. Cortar o mal pela raiz.

 
 
 
 

terça-feira, dezembro 10, 2013

Mulherada


 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
Estava eu a folhear a Revista do Expresso para enxotar o sono quando vejo esta foto da Kate Moss.
Kate tem 39 anos, festejou 25 de carreia e é agora a coelhinha da capa do 60º aniversário da Playboy.

Há um século, esta miúda seria, para não dizer mais, muito sénior, talvez fosse avó e talvez viesse a morrer em breve de tifo ou de bexigas; ou ainda de parto.
Em 2013, continua linda, rica, invejada e copiada.

Para esta mulher, como para muitas outras, o processo de envelhecimento, que vai começar a notar-se em breve, será duro ou, em alternativa, será duríssimo.
A terapêutica contra a dureza da coisa também, em geral, não varia muito – antidepressivos ou operações plásticas que a farão parecer a prima feia da Kate Moss. Ou ambas.

Felizmente os milagres existem e há mulheres que em vez de envelhecerem, rejuvenescem.
É o caso da tia Filipa Vacondeus que encontrei num anúncio algumas páginas à frente na mesma revista.
Eu posso jurar que quando eu era nova a tia Filipa já era velha; agora eu sou velha e a tia Filipa está em óptimo estado. É ver:

 
 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
Não sei como o conseguiu mas, se calhar, de tantas porcarias deitar na sopa, acabou por produzir o elixir da juventude.

Conclusão: vale a pena folhear a Revista do Expresso porque acabamos por ter pensamentos assim profundos que, por momentos, nos tiram da frivolidade dos dias a discutir se o Cavaco, afinal, foi contra ou a favor da libertação do Mandela.

 

  

terça-feira, novembro 26, 2013

Declaração de amor














 
 
 
 
O meu. Por Amos Oz, escritor israelita, natural de Jerusalém, nove anos mais velho que o Estado de Israel, 74 anos de idade, 30 a viver num kibbutz, muitos outros em Arad, às portas do deserto, agora em Telavive; também combatente nas guerras de 1967 e 1973, activista pela paz e defensor da existência de dois Estados – Israel e Palestina.

Li a entrevista que deu ao Expresso desta semana, palavra a palavra, frase a frase, como quem saboreia um pitéu raro.
Amos Oz é, também ele, um ser raro, dotado de inteligência, ponderação, sensatez, brilho intelectual, sabedoria e modéstia em doses sumptuosas.

Perguntam-lhe no fim da entrevista: Pode a escrita ser um fardo?
 
Totalmente. É um trabalho duro. Se escrevo um romance com 55 mil palavras, tenho o mesmo número de decisões a tomar. Cada palavra é uma luta.
 
Quem escreve alguma coisa sabe que assim é.
No caso de Amos Oz é uma luta sempre ganha, e que nunca deixei de lhe agradecer no final de cada livro.
Raça de homem que me fascina.

Nota: Já aqui  falei sobre um dos seus melhores livros

 

sábado, agosto 24, 2013

Notícias do Verão VIII - O Fogo

















 
 
Da esquerda para a direita:
Exaustão, Derrota, Dor.
Imagem da 1ª página do Expresso de 24 Agosto 2013

António Pinho Vargas escreveu hoje, sobre o assunto, um post no Facebook em que fala de "falhanço colectivo"; esta pode ser a sua imagem.

segunda-feira, julho 29, 2013

Também posso brincar, Cristina?

É maravilhoso ver como os ricos deste país estão felizes e descontraídos.

Deve dizer-se, em abono da verdade, que os nossos ricos nunca foram exibicionistas, sempre deixaram isso para os novos-ricos.

Para eles, a riqueza é sua por desígnio divino, é coisa que não se discute nem há necessidade de exibir.

Há muitos, muitos anos, quase no tempo em que os animais falavam, apanharam uns sustos, mas tudo isso passou, graças a Deus, e a vida voltou a ser como sempre foi e deve ser – segura, mansa e discreta.

E assim continua, podendo até dizer-se que está cada vez mais segura.

Poucas vezes os nossos ricos aparecem, mas esta semana deram um ar de sua graça na Revista do Expresso.

Instalados nas suas casas muito simples da Comporta, o que lhes apraz dizer é que estar lá, nessas casinhas, com a natureza em estado puro, “é como brincar aos pobrezinhos”, nas palavras de Cristina Espírito Santo, que Deus a proteja.

Não é uma ternura? Eu adorei.

Nota: a imagem aqui reproduzida acompanha a reportagem do Expresso e mostra as delícias dum champanhe no areal. Também posso brincar, Cristina?

quarta-feira, julho 24, 2013

Eça Agora

O jornal Expresso continua apostado em meter-me em casa coisas que eu não quero, talvez por não saber que a minha aposta, ao contrário, passou a ser a de tirar de casa tudo o que não quero, viver apenas com as coisas de que gosto e um mínimo de coisas neutras mas imprescindíveis
 
Com a iniciativa Eça Agora, que se integra na comemoração dos seus 40 anos, decidiu o jornal oferecer-me, primeiro, Os Mais, de Eça de Queirós, em três fascículos, e depois o prolongamento do mesmo até 1973 pela lente da imaginação de alguns autores-amigos do Expresso; por fim, no lugar do posfácio, vai oferecer-me uma “Introdução à Leitura d’Os Maias”.
 
Eu não entendo o raciocínio por trás desta iniciativa, porque me parece que a grande massa de leitores do Expresso, por gosto ou por obrigação escolar, já leu Os Maias, estará agora numa altura da vida em que pouco lhe interessa a tal Introdução à Leitura e talvez não tenha grande paciência para os chamados Novos Maias, congeminados pelos tais escritores-amigos que aceitam encomendas (ah, a vida está difícil, todos sabemos).
 
Nada disto me chatearia se eu fosse capaz de pôr livros no lixo.
Não sou, mas finalmente decidi o que fazer com as prendinhas do Expresso – serão largadas num banco da praça, da avenida, ou do jardim.
 
Quem sabe, não nasce assim um BookCrossing cá no meu sítio.
Isso sim, teria a sua piada, e redimiria um pouco o jornal que, para ajudar os seus, me enche de papel que não quero e não pedi.
 
Nota: a imagem usada é parte da imagem promocional da iniciativa do Expresso


quarta-feira, junho 12, 2013

Nicolau foi a Veneza

Não queria, juro que não queria voltar a falar disto, mas sou fraca.

Lendo o Atual do Expresso de 8 de Junho, topo com uma página inteirinha e laudatória dedicada à nossa Joana na Bienal de Veneza.

O texto deixava muito a desejar, mais parecia um panfleto publicitário carregado de banalidades e de afirmações encomendadas do tipo “o país sai honrado pela escolha de Joana Vasconcelos”.

A meio da leitura já eu me interrogava sobre a sua autoria – o escriba, afinal, era Nicolau Santos, o homem da economia, que “viajou a convite de Pré-Build”.

Ok, entendido.

Porém, uma dúvida me fica: será que o Celso Martins, ou o José Luís Porfírio, que costumam escrever sobre arte no Expresso, não quiseram ir?

Ou será que o Nicolau agarrou no convite e pensou: eu é que sou o director-adjunto e não vou perder esta borla com tudo aquilo a que tenho direito – viagem, jantar feito pelo chefe Avilez e degustado na companhia dos manos Portas, concertos e Dj no tombadilho do cacilheiro atirando música aos canais pela noite fora.

Com a dúvida ficarei, mas daqui te saúdo Joana, por fazeres tantos amigos felizes.

segunda-feira, maio 27, 2013

Jornalismo de investigação

Quando há poucos anos o WikiLeaks fez o seu estrondoso aparecimento nas nossas vidas, sob o aplauso quase geral dos jornalistas e ocupando imenso espaço na informação, não percebi tanto entusiasmo sem pitada de dúvida.

Sem negar a relevância da informação exposta, sempre me pareceu que ela tinha sido obtida como quem espreita o vizinho pelo buraquinho na parede.

Se calhar, até hoje ainda não percebi nada, visto que, até hoje, continuo a achar a mesmíssima coisa.

Ora, essa mesmíssima coisa não aconteceu quando este fim de semana, através do Expresso, tomei conhecimento da existência duma organização de jornalistas que dá pelo nome de International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ).

Com sede em Washington, congrega 160 jornalistas de 60 países e está a fazer um importante trabalho sobre offshores, seus criadores e utilizadores.

Esta organização dedica-se ao sector (talvez) mais nobre do jornalismo − o jornalismo de investigação, cada vez mais escasso nos meios de comunicação social de todo o mundo.

Rui Araújo, jornalista português pertencente ao ICIJ desde o seu início, afirma no Expresso – “sem jornalismo não há democracia”, e eu acho que sem jornalismo de investigação ela fica pobrezita e periclitante.

Provavelmente, esta escassez de jornalismo de investigação tem que ver com o seu elevado custo face ao baixo interesse do chamado “público”, que, na sua imensa maioria, e cada vez mais, se está borrifando para a investigação e a informação séria e rigorosa.

Sei muito bem que o que estou para aqui a escrever também não interessa nada ao estimado “público”; por isso este post serve apenas para dizer que gostei muito de tomar conhecimento da existência do International Consortium of Investigative Journalists (ICIJ), e que, às vezes, gosto mesmo de ainda gastar dinheiro a comprar jornais.

segunda-feira, março 11, 2013

Nascido para ser servido


Há frases que me escandalizam de tal forma que nem num puto de 19 anos as tolero.

No Expresso de sábado passado, José Gusmão Rodrigues, estudante de filosofia com 19 anos de idade e alguns prémios ganhos na sua área, afirma peremptório:

Acho uma loucura pessoas talentosas ficarem em Portugal”.

Ora, tendo eu chegado à idade de começar a passar o testemunho, de ser rendida pelos mais novos, é com perplexidade que vejo alguns tão individualistas, arrogantes e armados em finos como o autor da tirada – putos que se colocam num pedestal onde lhes devem ser servidas todas as condições para desenvolverem os seus superiores talentos.

Diz a criaturinha: “Lá fora há melhores condições”. Sem dúvida, mas convinha que alguém lhe dissesse que foi cá dentro que criámos as condições, todos juntos, para ele ser o que é, e talvez fosse bom que, chegada a sua vez, ele ajudasse a criar aqui condições ainda melhores para os seus próprios descendentes.

Tendo-lhe sido perguntado se haverá “bilhete de volta” responde, muito dono do seu nariz: “Talvez regresse, talvez não. Depende de como estiver o país nessa altura.

Ou seja: Se os sem-talento fizerem alguma coisa desta piolheira, talvez ele, pessoa talentosa, volte. Caso contrário, nada feito.
Mais um que nasceu para ser servido pela pátria.


segunda-feira, janeiro 21, 2013

AO & Fashion

Na sua crónica de sábado passado no Expresso, Miguel Sousa Tavares volta ao triste Acordo Ortográfico e à inusitada e ridícula situação de hoje haver três grafias oficiais do português.

Na revista do mesmo jornal, surge um artigo sobre os blogs de moda.

São oito os blogs e chamam-se: Fashion-à-Porter, Stylista, Fashion Rules, Lab Daily, The Stiletto Effect, …And This Is Reality, Janela Urbana e O Alfaiate Lisboeta.

Como se vê, 75% destes portugueses, maioritariamente trintões, escolheram o inglês para dar título ao seu blog.

Voltando ao Miguel Sousa Tavares, ele escreve, e eu concordo, que “há coisas que nenhum país independente cede sem estremecer: o território, o património, a paisagem, a língua.”

Concluo que este é um país “firme e hirto como uma barra de ferro” já que nada o faz estremecer – se o território lá se vai mantendo, o património é o parente pobre a quem se dá o que sobeja do, sempre parco, orçamento doméstico; no que toca à paisagem, temos feito tudo o que está ao nosso alcance para a desfigurar, e quanto à língua… as novas gerações evitam-na, e o normal é não saber pontuar, acentuar, grafar ou, sequer, fazer concordar (Pedro Passos Coelho é disso o exemplo maior).

Escrever em português parece ser, cada vez mais, uma extravagância um bocado saloia; está absolutamente out.
Em breve nos entenderemos apenas em inglês, e o AO passará a ser um não-assunto.
Será o momento de, por aqui, voltarmos todos a dormir na santa paz própria dos animais de sangue frio.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

O Henrique e as malhas da Ti’ Maria


Quando eu levava a sério o Henrique Raposo, embirrava um bocado com ele mas, no momento em que percebi que o rapaz não podia ser levado a sério e que aquilo era mais ou menos um intermezzo humorístico do Expresso, passou a ser, para mim, o autor da semanal croniqueta light.

No sábado passado, voltou às origens e às camisolas de malha da Ti’ Maria, que lhe eram oferecidas no Natal e na Páscoa, e davam um jeitaço porque eram quentinhas e coloridas e tricotadas com amor e passavam de tronco para tronco.

Eram bons tempos, na perspetiva do Raposo, e estão de volta, com a graça de deus.

Então ter as tias todas a tricotar furiosamente para os ganapos ali à volta da braseira não é um ideal para o século XXI, para a refundação da família cristã e do próprio país?

Se o Henrique fosse um pouco mais velho ainda se havia de lembrar, com prazer, dum texto do livro único do Salazar para a escola primária.

Mas eu conto: era uma vez um menino mau que foi aos ninhos e rasgou as suas únicas calças. A irmã, depois de o admoestar por tão feia acção, e para que a mãe não percebesse, pegou na agulha, não a de tricotar da Ti’ Maria, mas a outra, a de coser, e arranjou as calças na perfeição. O texto terminava dizendo: “Que lindas que são as meninas que sabem costurar”.

Ó Henrique, caraças, isso é que eram bons tempos. Já viu só, se conseguisse juntar a Ti’ Maria a tricotar e a mana a coser para si? Era o paraíso na terra.

Porcaria de país este, que meteu na cabeça que havia de ir à Benetton comprar malhas.
Mas os “ontem que cantam” na cabeça do Henrique são um verdadeiro farol para o futuro do país.


quinta-feira, outubro 18, 2012

Do título em inglês para a asneira em português

Volto ao Expresso de 13 de Outubro, jornal que dá direito a quase tantos comentários como os amuos do CDS, e que, na sua Revista, tem uma “coisa” que se chama login. Entende-se –o português é língua de fracos recursos!

No último sábado, a página foi dedicada à mudança de direcção do Museu de Serralves, que passará a ser assumida por Suzanne Cotter, substituindo João Fernandes.

Neste tal login, o director cessante passou a “chamar-se” João Gonçalves, e por duas vezes.

Não parece gralha, pois não?

João Fernandes está em Serralves desde 1996 e foi seu director nos últimos oito anos. Fez um trabalho tão notável que saiu para sub-director do Museu Rainha Sofia em Madrid, e, pasme-se, até foi condecorado pelo Governo francês como Cavaleiro das Artes e das Letras.

É portuguesinho de gema, com trabalho reconhecido “lá fora”, mas o jornalista do Expresso não lhe sabe o nome, e o editor também não, e o revisor também não e, se calhar, o director também não.

Analfabetismo cultural será, mas é sobretudo preguiça, muita preguiça.
Está tudo na internet, senhores jornalistas.

E, já agora, deixo ali em cima a fotografia de João Fernandes, para que o jornalista do Expresso, quando o vir em Espanha, o possa identificar correctamente, e não lhe venha a chamar Juan Fernandez, ou Gonçalvez, ou coisa que o valha.

terça-feira, outubro 16, 2012

Sousa Tavares e a Fundação Saramago

No seu artigo de opinião do Expresso de 13 de Outubro, Miguel Sousa Tavares escreve, muito bem como de costume, sobre a carga fiscal que aí vem. No fim, entende fazer um PS em que goza com o Congresso das Alternativas (reunião de marretas de esquerda, segundo ele) e, aproveitado o facto de este ter sido encerrado por Pilar del Rio, termina escrevendo:

Saberão os “alternativos” quanto já nos custou a Fundação Saramago e o que fez em troca pelo bem comum? Ou não lhes interessa saber?

Alternativos ou não, julgo que interessa a todos saber, mas eu lembro-me de sobre o assunto ter lido, por exemplo aqui, que a fundação não iria ter dinheiros públicos.

É certo que a obra na Casa dos Bicos foi levada a cabo pela Câmara de Lisboa; estava aos ratos, e sendo monumento nacional, não vejo por que não seria o dinheiro público a financiar a obra.

Ora, eu não sou mesmo nada admiradora da Presidenta (?) Pilar, mas ela é a mulher que Saramago escolheu para viver e para ser presidente vitalícia da sua fundação. Qual o mal? O senhor Gulbenkian não escolheu Azeredo Perdigão para presidente vitalício da fundação que leva o seu nome?

Se alguma coisa se modificou no financiamento da Fundação Saramago e o Miguel Sousa Tavares o sabe, é bom que o diga por inteiro, para todos sabermos, e não se limite a deixar no ar perguntas insidiosas que já contêm em si a resposta.

Fale, homem, eu quero saber a verdade, e um jornalista pode descobri-la muito mais facilmente que eu.

Fico à espera do esclarecimento para dar a mão à palmatória, se for caso disso. Caso ele não venha, vou continuar a pensar sobre o Miguel Sousa Tavares o que sempre pensei – excelente jornalista, quase sempre certeiro, mas, quando movido por ódios pessoais, pode espalhar verrina e suspeições de duvidosa seriedade intelectual.

quarta-feira, julho 04, 2012

Uma questão de vistas

No Expresso de sábado passado li esta frase:

“A Grécia está no olho do furacão da crise das dívidas soberanas mas um problema numa vista afastou o PM da cimeira”.

Apeteceu-me logo perguntar ao jornalista João Dias, que assina o artigo, como vai de vistas. É melhor a da sala ou a do quarto? E o serviço de pratos é Vista Alegre? E que me diz dos de vistas curtas que por aí andam? E dos que fazem vista grossa? E dos que só pensam em fazer vista?

Bem vistas as coisas, o jornalista não deu nenhum pontapé na língua, limitou-se a usar o termo popular, mas fez-me lembrar a tia Ermelinda lá da aldeia, sempre a lacrimejar por causa dum problema numa “vista”.

Ela diz sempre assim, talvez porque tenha medo que a palavra olho ofenda, e todos sabemos porquê; acontece que ela nunca foi à escola e por isso não sabe que não há confusão possível – “aquele”, o tal que a faz temer a confusão e a ofensa, tem outro nome, e o órgão da visão, o que tem retina, chama-se OLHO.
Era desse que padecia o PM grego.

Ora, um jornalista do Expresso não deve escrever como fala a tia Ermelinda, acho eu, é o meu ponto de vista.
E será que o Expresso já não tem revisor, ou ele é dos que só dá uma vista de olhos? Ou terá vista cansada?

Eu gosto muito da tia Ermelinda mas, quando leio o jornal, caramba, gostava mesmo que chamassem olho ao OLHO.
Até à vista.

quarta-feira, março 28, 2012

Viegas em cima do muro

Há políticos com sorte. Talvez por terem boas relações nas redações dos jornais, têm sempre aquilo que se chama “boa imprensa”.
É o caso de Francisco José Viegas, Secretário de Estado da Cultura.

Desta vez, o Expresso foi entrevistá-lo e devem ter combinado qualquer coisa do género – O senhor Secretário põe-se em cima do muro e a gente não o empurra.

Assim foi; os jornalistas não empurraram e, diga-se em abono da verdade, Viegas também não caiu sozinho. Daí resultou uma entrevista frouxa e desinteressante, que não enche nem vaza. Apenas um assunto me despertou o sorriso e o temor em simultâneo.

Sob o signo das várias Rotas turísticas abordadas, Viegas parece ter particular carinho pela Rota das Judiarias, que vai desenvolver, com o “coração” em Belmonte.
Sabendo que o Secretário de Estado se converteu ao judaísmo, não estranho o seu entusiasmo.

Mas, no final de entrevista, ele afirma:
“A SEC vai colaborar com o Ministério da Economia nos investimentos que já estão previstos. Falo da construção de um hotel desenhado por Frank Gehry (arquiteto de origem judaica), que já está aprovado e espera-se a resposta dele para desenhar a primeira sinagoga da sua vida. Se for assim, imagine-se o que isso significará.”

Eu fico logo a imaginar charters de judeus para Belmonte, sorrio à fixação do PSD em Frank Gehry, mas tremo só de pensar quem lhe pagará a sinagoga e o hotel.

Nota: imagem retirado do Expresso de 24 Março 2012

quarta-feira, agosto 03, 2011

Dúvidas climáticas

Desde 2006, quando Al Gore apresentou Uma Verdade Inconveniente sobre as alterações climáticas, a paranóia tem vindo em crescendo na retórica, e quase exclusivamente na retórica.
Não duvido que podíamos ser muito melhores zeladores desta casa que a todos aloja e que se chama planeta Terra, mas parece-me que muitos vão ganhando bom dinheiro com a questão ecológica que se transformou, por um lado em medo (mais um medo), por outro em moda, e por outro ainda em negócio rentável.
Sempre me pareceu que o Homem, nos seus infinitos sonhos de grandeza, se considera muito mais importante do que aquilo que de facto é, talvez por ter sido tão marcada por Carl Sagan, que foi a primeira pessoa a dizer-me que nada mais somos que pó de estrela.
A revista Única do Expresso desta semana traz um interessante entrevista com Luís Carlos Molión, climatologista brasileiro, que vai bem mais longe que eu no seu cepticismo. Afirma ele que os responsáveis pelas alterações climáticas (que não são de agora, mas de sempre), são os oceanos e o sol, e que a terra vai arrefecer nos próximos 20 anos.
Quando lhe é perguntado se não há influência da actividade humana nas alterações climáticas da Terra responde que não, porque apenas 7% da superfície da Terra é manipulada pelo homem, e este apenas modifica o ambiente local em que vive.
Eu prefiro ter dúvidas a ter medo, detesto fundamentalistas de qualquer causa e penso – talvez Molión não tenha razão mas, e se tiver?
Bom, se tiver ninguém lha dará. Os negócios iniciados devem continuar, tal como o medo, não muito palpável mas já bem instalado, que sempre torna os homens mais pacíficos e acomodados.