O que António Guerreiro escreve no Atual do Expresso é, para mim, de leitura obrigatória, e com grande prazer.
No passado sábado, escreveu sobre a moderna e perigosa
“mania” de se dizer o preço de tudo, o que conduz a que se considere ” intolerável o que faz parte de uma
economia não produtiva”. Referindo a teoria de Mauss, e simplificando eu o
que ele escreve, assinala que não é possível uma sociedade sem a “festa”, mas o
discurso político atual exclui-a liminarmente.
Deve ser esse facto o grande responsável pela mesquinhez e
miopia que tomou de assalto os portugueses, levando-os a tudo considerarem má
despesa pública.
Fico boquiaberta com o interesse que as pessoas têm pelo
cardápio do restaurante da Assembleia da República, pelo café que as Câmaras
compram e pela rápida quantificação dos gastos com as iluminações de Natal, por
exemplo, tudo envolto num diáfano manto de censura moralista.
Estou cansada do desastre político bordado de mesquinhez
cívica, e acredito que “não é possível
uma sociedade sem o elemento heterogéneo, o gasto improdutivo, que transgride a
homogeneidade da lógica da produção”, segundo a teoria do dom de Mauss, e
segundo António Guerreiro.
Por mim, mesmo que ela não caiba no “elemento heterogéneo”, sinto
absoluta saudade da alegria tout court.