Essa é uma das razões por que a entrevista que Vargas Liosa
dá ao Ípsilon da passada sexta-feira é tão deprimente.
Apocalíptico em sentido lato, reserva para si e para a
literatura o papel de salvadores do
pensamento e da escrita, mas apenas, e repito APENAS, no formato de livro.Llosa afirma : “se os tablets e os ecrãs roubarem todo o protagonismo ao livro, assistiremos a um extraordinário empobrecimento da linguagem, haverá uma deterioração da comunicação e da racionalidade, as máquinas passarão a pensar por nossa conta e isso poderá trazer consequências gravíssimas, nomeadamente o desaparecimento da liberdade”.
Um susto, estas afirmações (reiteradas), vindas dum Nobel da
Literatura que só tem 76 anos.
No que me diz respeito, gosto de livros. Gosto mesmo muito.
E, apesar de reconhecer o prazer quase sensual de os manusear, cheirar etc. não
fujo do digital como o diabo foge da cruz. Há livros que quero ter fisicamente
ao pé de mim. Sempre. Esses, quero-os em papel. Há muitos outros que leio e
esqueço. São os que podem vir em suporte digital − um dia vou apagá-los para
dar lugar a outros. Esta mania de que as coisas não podem coexistir, nunca a
entendi, até porque o passar do tempo nos vai mostrando que é o contrário que é
verdadeiro.
Vargas Llosa ficou, precocemente, velho.
Compare-se a sua postura face ao ecrã com a da minha mãe,
que no dia dos seus 86 anos recebeu livros, mas também foi à internet descobrir
um truque para fazer crescer as farófias.Quem é mais novo, quem é?
E, já agora, quem parece mais inteligente e disponível para a vida?
PS: sobre o mesmo assunto, recomendo o post de Rui Bebiano no seu blog A Terceira Noite