Outro dia
perguntei como é que o Marinho Pinto tinha conseguido tantos votos se eu, que
me considero informada, não dei pela campanha dele.
- Não houve
sequer debates na televisão, argumentei.
Foi então
que me explicaram, com alguma condescendência, que o novel eurodeputado é
presença frequente nos programas diurnos das televisões onde se entretem, e
entretem os espectadores, com contundentes discursos antissistema.
Fez-se-me
luz, o que se traduziu por um prolongado e apalermado AHHHHHHHH!.
Às vezes
ligo o aparelho de tv uns minutos antes dos telejornais dos canais generalistas
e ainda vejo a parte final de algum programa, mas nunca vi o Marinho Pinto.
Aquilo geralmente termina a dar dinheiro a um telespetador que já está a almoçar
e pronto, é uma alegria. Daí o meu espanto.
Ontem,
porém, vi um pouco mais. Quando liguei (calhou ser a Sic) estava lá um senhor
de nome Hernâni a falar sobre as buscas por Maddie levadas a cabo por polícias
ingleses no Algarve.
Pouco
percebi, não consegui apanhar o fio da meada nem “pesquei” nada do raciocínio
do tal Hernâni mas os apresentadores estavam com caras de caso, e o Hernâni proferia
umas frases curtas logo seguidas duns silêncios que gritavam: sei muitas coisas
mas não vos digo porque isto é tudo muito perigoso.
Eu até tive
pena dele porque acho que ele tem muitas coisas “entaladas”, salvo seja, que
precisava de deitar fora.
Na verdade,
eu própria já me tinha perguntado: que é que Madeleine McCann tem que os outros não têm?
É que se o
governo britânico gastasse com todas as crianças desaparecidas no seu país
tanto como tem gasto com esta, se calhar já se tinha visto obrigado a fazer um
pedido de resgate ao FMI.
Mas o
Hernâni sabe, tenho a certeza, e podia dizer ao governo britânico aquilo que
estava cheio de vontade de nos dizer a nós mas não se atreveu.
Podia,
digamos, “desentalar”.
Depois de o
ver, lembrei-me da explicação que me deram para a eleição do Marinho e fiquei com
a certeza de que, se este homem Hernâni se lembrar de se candidatar a qualquer
lugar político, sem dúvida será eleito, como o Marinho. Claramente este também
é antissistema, e o povo gosta disso.
Conclusão
possível a extrair deste arrazoado: ninguém entende verdadeiramente o país se
não se vir televisão de manhã, à tarde e à noite.
Felizmente
eu já desisti de o entender.