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sexta-feira, dezembro 07, 2012

Filha de Rousseau

Deixando de lado as questões da pedagogia e do saber, e apesar de já ter idade para ter juízo, sei que ainda hoje, lá bem no fundo do fundo, sou um pouco “filha de Rousseau”, no sentido de acreditar que o homem é naturalmente bom.

Estúpido isto, eu sei que é estúpido, porque a toda a hora se demonstra que o contrário é que é verdadeiro, mas, como cada um tem direito à sua dose de parvoíce, eu tendo a tomar como seguro que os gestos bonitos nascem da bondade de corações puros. Pois!

O exemplo mais recente foi o da tal Adriana na manifestação de 15 de Setembro; achei que o sortudo do fotógrafo tinha conseguido captar um momento de fraternidade universal, em que o coração duma boa (!) garota ansiava pela paz e concórdia entre os homens, não temendo botas cardadas, bastões ou viseiras para alcançar tão nobre objectivo.
Vai na volta, viu-se que afinal a miúda tinha inclinação para o showbiz.

Daí que tenha estremecido quando li esta frase no Público, a propósito do polícia nova-iorquino que foi comprar umas botas para o sem-abrigo descalço:

Jeffrey Hillman ficou famoso como o sem-abrigo descalço a quem um polícia ofereceu um par de botas numa noite fria. A fotografia do momento emocionou o mundo. Mas nem tudo é o que parece.

Pensei: lá vem bomba de fragmentação para cima da minha fé nos homens. Até tive medo de ler. Mas li, e ainda bem. Afinal o polícia é mesmo um polícia bom, de coração puro e compassivo, e o sem-abrigo é apenas alguém, ou mais um, que perdeu o tino durante uma das muitas guerras americanas. Ufff…

Bom fim-de-semana para todos os corações bons e compassivos.

quarta-feira, agosto 08, 2012

Amigos inseparáveis


Nesta imensa mas prazeirosa tarefa a que o governo se propôs – a de desfazer um país peça a peça – seria falso dizer que desinvestiu em tudo. De facto, há uma excepção – a polícia.

Os polícias lá vão sendo promovidos, com atraso, é certo, mas vão sendo, o nosso primeiro vai assistir a umas macacadas de polícias aos tiros e leva com ele as televisões, e o ministro Miguel Macedo anunciou há pouco “novos investimentos” para 2013.

A ideia de polícia versus segurança dos cidadãos pode “colar” junto de muitos mas, cá para mim, o que “cola” é o medo que ELES têm e a necessidade que sentem de estar bem artilhados para o que der e vier.

Afinal, nada de novo; o poder e o medo sempre foram amigos inseparáveis.

segunda-feira, março 26, 2012

Cidadania, isso?

Isto da cidadania não é só para exercer quando se trata dos cocós dos cães!” Li estas palavras no Facebook.
Concordo com elas, e como até já aqui escrevi sobre "Beatas e cocós", enfiei a carapuça. Por isso ouso ir um pouco mais além no tema e naquilo que, no Facebook, originou as palavras citadas – a carga policial no Chiado.

A cidadania, em meu entender, exerce-se todos os dias, a todas as horas, em qualquer local. É transversal a todos os atos da nossa vida quotidiana.
Tal como a política, está em tudo.

Porém, pede-se no Facebook a identificação do apelidado “Valentão do Chiado”, aquele polícia que, na foto muito divulgada, está a bater na fotojornalista, e entende-se isso como um ato de cidadania – identificá-lo e, na melhor das hipóteses, castigá-lo, na pior talvez linchá-lo à bastonada. Ora, aqui não concordo; não acho que isso seja um ato de cidadania.

Os jovens fotojornalistas que foram para o terreno e foram agredidos, deviam saber que a polícia de choque tem o nome com ela, e quando intervém é para limpar o local, está cega, só obedece à ordem que recebeu. São assim todas as forças militares e paramilitares, sempre o foram. Quando aparecem, é bom que se fuja, seja-se ou não jornalista, porque ali já não estão homens – apenas máquinas bestiais treinadas para bater.

Identificar um polícia como alvo a abater, como se ele fosse causa e símbolo de todos os males da nossa democracia, pode ser um alívio para a raiva que vamos contendo, mas nada tem de exercício de cidadania.
Faz parte das regras do bom jogo democrático que protestemos sempre contra a violência policial mas, por aqui, nunca vi uma boa discussão democrática e cidadã sobre se queremos ter, ou não, um corpo de intervenção, qual o papel que lhe atribuímos e quais as suas baias, já que o pagamos.
Pedir a cabeça dum polícia (ainda que sádico) não é exercício de cidadania, é pura expressão de raiva, talvez mesmo de impotência, mas não deixa de ter um perigoso cheirinho de apelo à justiça popular.
Não, não vou por aí.

Nota: foto retirada do Facebook

sexta-feira, março 09, 2012

Só não privatizam as mães porque já são privadas

O mundo, tal como o conheci, vai desaparecer muito mais depressa do que aquilo que eu imaginei. Só falo por mim, mas custo a dar conta a tanta mudança.

Segundo esta notícia, caminhamos para a privatização da polícia, tal como já está a acontecer noutros países (Reino Unido, por exemplo).

Ouvidos sobre o assunto, o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP), e um sociólogo do ISCTE acham a situação normal, desde que devidamente regulamentada.

Depois da polícia, se calhar, vamos privatizar as Forças Armadas e os tribunais e aí vai chiar mais fino. Esses terão potencial de grandes empresas, em que quem vai decidir é o acionista, como está bom de ver. E sobre o teor das decisões dos acionistas já temos vasta experiência.

Até somos capazes de imaginar, com uma imaginação doentia e tenebrosa, que um dia, com o passar do tempo, venderão o tribunal-empresa e a marinha-empresa aos chineses e angolanos ( brrrrrr, foi só um calafrio.)

Isto vai tão depressa que eu nem a galope consigo alcançar o alcance de tantas novidades.

Se calhar, a culpa nem é dos decisores, mas apenas da velocidade a que viajamos; segundo fiquei a saber outro dia num pequeno artigo do Expresso, se contarmos com todos os movimentos da terra e do cosmos, mesmo a dormir, estamos a viajar a 600 km por segundo.
Deve ser disso.