“465 mil desempregados não recebem proteção social há 9 meses”.
Apertou-se-me o estômago, mas pior fiquei quando esmiucei a situação.
É certo que hoje há muitas organizações que asseguram a
alimentação básica, algum vestuário e até ajuda para manuais e material escolar
mas, quem paga a renda da casa ou o empréstimo ao banco, quem
paga a conta da água e da luz, quem compra a aspirina ou o antibiótico para a
criança, quem paga o bilhete de autocarro para ir ao centro de emprego, quem,
enfim, paga essa infinidade de pequenas coisas que nos fazem voar o dinheiro da
carteira por mais despojada que seja a nossa vida?
Essas 465 mil pessoas estão entre nós, discretamente,
silenciosas. A sua sobrevivência é um mistério mas, de certeza, só a conseguem com
base numa enorme teia de solidariedade urdida sobretudo na família, mas às
vezes também nos vizinhos e amigos.
Somos bons nisso. Mas tenho vergonha daquilo.